Como ensinar os filhos a lidarem com o dinheiro de maneira sensata
Enquanto dispuser de algumas moedas,
sentirá a necessidade imperiosa de gastá-las imediatamente, até que não sobre
nem um centavo. Se não tem dinheiro, não pára de pedir que lhe compremos algo.
Será possível ensinar aos filhos como usar e administrar o dinheiro? A maioria
dos pais está de acordo de que isso é possível, mas como?
O dinheiro, além de ser uma invenção
que contribuiu para o progresso da humanidade, é uma realidade quotidiana, a
par do elemento sociológico e cultural com o qual nossos filhos necessariamente
terão de conviver. Tem um considerável valor funcional, mas nem sempre lhe
damos a devida importância educativa.
Durante as férias de verão, os pais de
César, de quatro anos de idade, observaram que quando saíam para passear de
tarde, como de costume, e lhe perguntavam se queria um sorvete ou outra
guloseima, ele recusava e continuava brincando. Como essa conduta se repetisse
por vários dias, sendo de todo inesperada, concluíram que alguma coisa de
anormal estava acontecendo e precisariam descobrir. Depois de algum rodeio,
César confessou:
- Se não compramos mais sorvete,
economizamos para comprar aquele carro de passeio que a gente queria tanto!
Júlio, de quatorze anos, está
continuamente recriminando os pais por não comprarem uma moto para ele, e em
conseqüência se recusa a estudar. Sua mãe me explicava que o que mais desejaria
era ter dinheiro para comprar-lhe essa moto e ver se, assim, ele passaria a se
interessar pelos estudos.
São duas histórias reais, que
exemplificam o ponto e o contraponto na educação do uso do dinheiro. Podemos
afirmar que os pais de César estão desenvolvendo melhor tarefa educativa que os
pais de Júlio, uma vez que César, com apenas quatro anos, é capaz de dominar um
desejo muito apetitoso, estimulado por algo está muito distante no tempo, ao
passo que Júlio, bem mais velho, não é capaz de cumprir suas responsabilidades,
a não ser em troca de um bem material.
Aprendizagens relacionadas ao dinheiro
Embora possa parecer óbvio, devemos nos
assegurar de que os nossos filhos consigam assimilar certas aprendizagens
relacionadas com o dinheiro. Tais aprendizagens não se adquirem de forma
espontânea, mas são respostas a estímulos recebidos. Normalmente, se em casa
lhes oferecemos modelos adequados, é frequente que as crianças ajam de maneira
consequente. Entretanto nem sempre nem necessariamente é assim. Por vezes, como
conseqüência de outras influências, ou por uma falta de sensibilidade com
relação a certas aprendizagens, pode ocorrer que nossos filhos apresentem
atitudes insensatas ou incoerentes em relação ao dinheiro. Convém, por isso,
nos certificarmos que eles assimilem certas atitudes e hábitos, antes que seja
tarde demais.
Concretamente eles devem aprender que:
1) Convém administrar o dinheiro de
modo que uma parte seja guardada para, futuramente, adquirir bens de custo
elevado.
2) Dinheiro serve para obter coisas
necessárias e úteis, como também para pagar alguns caprichos ou atividades de
recreação.
3) Com o dinheiro se pode ser solidário
e ajudar outras pessoas.
4) Se cuidarmos bem de tudo que usamos,
evitamos gastos desnecessários, o que nos permitirá poder comprar outras
coisas.
5) Dinheiro se obtém em troca de
trabalho.
6) Todos nós temos o direito de dispor
de dinheiro como fruto do trabalho, não, porém, em troca de nada, o que seria
um privilégio.
7) É preciso administrar o dinheiro de
forma a nos permitir enfrentar os gastos de um determinado período de tempo.
A maneira de sabermos se realmente eles
aprenderam, será observar se, de modo progressivo, mostram formas de
comportamento condizentes com as aprendizagens acima.
A idade dos filhos condiciona as
aprendizagens que lhes possamos propor.
A prudência nos adverte que não é
possível ensinar-lhes tudo de uma vez. Além do mais, sua maturidade intelectual
lhes impediria algumas aprendizagens. Conseqüentemente, o recomendável é
estabelecer uma seqüência de objetivos conforme a idade da criança:
Até os sete e oito anos, podemos
ensinar de preferência os três primeiros tipos de aprendizagem. São as
primeiras atitudes de economia, de solidariedade e do uso do dinheiro.
Entre os oito e onze anos, ou doze -
quando já se tem uma visão menos egocêntrica do mundo e se é capaz de
compreender e de desenvolver alguns raciocínios, como também de relacionar
algumas conseqüências com suas causas - vem o momento de se descobrir a relação
entre dinheiro e trabalho, e de aprender a relacionar o cuidado das coisas com
o dinheiro. Podemos tratar, nesta fase, além dos três primeiros tipos, das
aprendizagem que se apresentam em quarto e quinto lugar.
A partir dos doze anos, com o
progressivo aflorar do pensamento formal e da capacidade temporal, podemos
ensinar-lhes a administrar, a ser previdentes e a dar valor aos seus próprios
direitos, obrigações e privilégios. Procuraremos chegar ao final da lista de
objetivos.
O uso do dinheiro antes dos oito anos
Desde os primeiros anos é aconselhável
aproveitar qualquer circunstância para que as crianças participem de atividades
de compra. Podemos pedir-lhes que elas mesmas peçam ao vendedor o que vamos
comprar, paguem com o dinheiro que lhes dermos e esperem o troco. Será um
primeiro contato delas com o dinheiro e as compras.
Quando alcançarem maturidade suficiente
para compreender as quantidades e os preços de algumas coisas do seu interesse
(guloseimas, pequenos brinquedos, material escolar...), podemos aproveitar para
lhes dar certa quantidade de dinheiro, para que decidam onde comprar: se numa
banca de revistas, numa livraria etc. Nas primeiras vezes, vale a pena
ajudá-las a tomar as suas decisões.
É importante usar a mesma estratégia
para a aquisição de objetos supérfluos e objetos necessários (lápis, apontador,
cadernos...). Trata-se, aqui, de fazê-los participar, desde cedo, na compra dos
dois tipos de produtos, pois alguns de nossos filhos podem pensar que as coisas
necessárias e úteis são algo que lhes é dado, sempre, de graça, e por isso não
precisam nem pensar a respeito. Por isso, tentaremos assentar as bases para que
em seu campo de visão econômica apareçam as diferentes facetas dessa realidade.
Simultaneamente, teríamos que
providenciar para eles um cofre ou objeto similar, onde possam guardar o
dinheiro que sobra de suas compras, ou o que venham a receber de familiares ou
de amigos, e que não gastaram. Junto com a aquisição do cofre, deveríamos
explicar-lhes que nele se pode guardar o dinheiro que deve servir para comprar
alguma coisa para seu uso próprio ou para presentear alguém. Convém que desde o
princípio lhes expliquemos as duas finalidades, ajudando-os a planejar alguma
em particular (algo que lhes dê prazer, como para o aniversário da mamãe...).
Também é o momento de aproveitar qualquer acontecimento da atualidade para
incentivá-los a usar parte desse dinheiro em donativos que ajudem outras
pessoas, mas, sempre, deixando-os livres para decidir sobre a quantidade.
Como em outras facetas educativas, é
preciso acompanhá-los em seus primeiros contatos com o dinheiro, a fim de que
se tornem capacitados para perceber diferentes aspectos da realidade e, graças
a isso, aprenderem a tomar decisões razoáveis. Mais para a frente, à medida que
notarmos seus progressos, aumentaremos sua liberdade e o grau de dificuldade
para suas novas decisões.
por José María Lahoz García, Pedagogo (Orientador escolar e profissional), Professor de Educação Primária e de Psicologia, e de Pedagogia na Escola Secundária.
Fonte Original: Solohijos - www.solohijos.com
Comentários